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ROSAS
São
pequenos textos da Santa Teresinha que podem ser lidos
ou meditados pessoalmente ou em grupo,
em Orações ou Vigílias.
Primeira
Comunhão
Na véspera do
grande dia, recebi a absolvição pela segunda vez. A minha
confissão geral deixou-me uma grande paz na alma, e Deus não
permitiu que a mais ligeira nuvem a viesse perturbar. De tarde
pedi perdão a toda a família, que me veio visitar; mas
não pude falar senão com as
minhas lágrimas, pois estava emocionada demais[...]
Chegou
finalmente o mais belo dos dias! Que inefáveis recordações
deixaram na minha alma os mais pequenos pormenores desse
dia do Céu!... O alegre despertar da aurora, os beijos
respeitosos e ternos das
mestras e das companheiras mais velhas...; o salão cheio
de flocos de neve com que cada menina era vestida...; e
sobretudo a entrada para a capela e o canto matinal da
linda canção: «Ó Altar santo que os Anjos rodeiam!»
Mas não quero
entrar em pormenores. Há coisas que perdem o seu perfume quando
expostas ao ar; há pensamentos da alma que não se podem
traduzir em linguagem da terra sem perderem o sentido íntimo e
celeste; são como aquela «Pedra branca que será dada ao
vencedor, sobre a qual está
escrito um nome que ninguém conhece, a não ser
aquele que a recebe». Ah! como foi doce o primeiro
beijo de Jesus à
minha alma!...
Foi um beijo
de amor. Sentia-me amada e dizia por minha vez: «Eu
amo-Vos! Dou-me a Vós para sempre!» Não houve pedidos, nem
lutas, nem sacrifícios. Desde há muito, Jesus e a pobre
Teresinha tinham-se olhado e tinham-se compreendido...
Nesse dia já não era um olhar, mas uma fusão, já
não eram dois: a Teresa desaparecera como a gota de água
que se perde no oceano. Só ficava Jesus, como dono, como Rei.
(História
de uma Alma, Ms A 34v-35rº)
Um
Caminhito Completamente Novo
Bem sabeis, minha Madre, que sempre desejei ser santa.
Mas, ai de mim! sempre verifiquei, ao comparar-me
com os Santos, que há entre eles e eu a mesma diferença que
existe entre uma montanha, cujo cume se perde nos céus, e o
obscuro grão de areia pisado pelos pés dos caminhantes. Em vez
de desanimar, disse para comigo: Deus não pode inspirar desejos
irrealizáveis. Posso, portanto, apesar da minha pequenez,
aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível;
tenho de suportar-me tal como sou, com todas as minhas
imperfeições. Mas quero procurar a maneira de ir para o Céu por
um caminhito muito direito, muito curto; um caminhito
completamente novo.
(História de uma Alma, Ms C 2vº)
Se alguém for pequenino...
Estamos num século de invenções.
Agora já não se tem a maçada de subir os degraus
de uma escada; em casa dos ricos o ascensor substitui-a
vantajosamente. Eu queria também encontrar um ascensor que me
elevasse até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a
rude escada da perfeição. Então, procurei nos Livros Sagrados a
indicação do ascensor — objecto do meu desejo —, e li as estas
palavras saídas da boca da Sabedoria eterna:
Se alguém for pequenino, venha a mim.
Então, aproximei-me, adivinhando que tinha
encontrado o que procurava, e querendo saber, ó meu Deus!, o que
faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo. Continuei
as minhas buscas, e eis o que encontrei: — Como uma mãe acaricia
o seu filho, assim eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e
embalar-vos-ei nos meus joelhos! Ah!, nunca palavras tão ternas
e tão melodiosas me vieram alegrar a alma.
O ascensor que me há-de elevar até ao Céu, são os
vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de
crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e
que me torne cada vez mais pequena. Ó meu Deus! excedestes a
minha esperança, e eu quero cantar as vossas misericórdias.
(História de uma Alma, Ms C 3rº)
Boa Vontade
Tu fazes-me pensar numa criancinha que começa a
erguer-se de pé, mas que ainda não sabe caminhar. Querendo a
todo o custo subir ao alto duma escada para estar com a sua
mamã, levanta o pézito para subir o primeiro degrau. Mas é um
esforço inútil! Cai uma e outra vez, sem chegar a avançar. Muito
bem: aceita ser essa criança. Pela prática de todas as virtudes,
levanta sempre o teu pézito para subires a escada da santidade.
Não conseguirás subir o primeiro degrau sequer. Mas o que Deus
apenas te pede é a tua boa vontade. Do alto da escada Ele
olha-te com amor. Rapidamente vencido pelos teus inúteis
esforços, Ele-mesmo baixará e tomando-te nos seus braços,
levar-te-á para sempre para o seu reino, onde jamais te
afastarás dEle. Mas se não chegares a levantar o teu pézito Ele
deixar-te-á muito tempo na terra.
(Caderno Vermelho, escrito pela Irmã Maria da
Trindade)
Desejo ser Santa
Ó meu Deus! Trindade Bem-aventurada!
Desejo amar-Vos e fazer‑Vos amar, trabalhar pela
glorificação da Santa Igreja, salvando as almas que estão na
terra, e libertando as que estão no Purgatório. Desejo cumprir
plenamente a vossa vontade, e chegar ao grau de glória que me
preparastes no vosso Reino; numa palavra, desejo ser santa. Mas
conheço a minha impotência, e peço-Vos, ó meu Deus, que sejais
Vós mesmo a minha Santidade.
Já que Vós me amastes até me dardes o vosso Filho
único para ser o meu Salvador e o meu Esposo, os tesouros
infinitos dos seus méritos são meus: ofereço-Vo-los com alegria,
suplicando-Vos que não olheis para mim senão através da Face de
Jesus e no seu Coração ardente de Amor.
(Oração 6: 1-2)
O Pequeno Passarinho
O passarinho quereria voar para o Sol brilhante que lhe fascina
o olhar;
quereria imitar as Águias, suas irmãs, que vê elevarem-se até ao
fogo divino da Santíssima Trindade... Pobre dele! tudo quanto
pode fazer é agitar as suas pequenas asas; mas levantar voo,
isso não está no seu pequeno poder! Que será dele? Morrerá de
desgosto, ao ver-se impotente?... Oh, não! o passarinho nem
sequer se vai afligir. Com um audacioso abandono, quer ficar a
fixar o seu divino Sol. Nada seria capaz de o assustar, nem o
vento nem a chuva; e se nuvens sombrias chegam a esconder o
Astro do Amor, o passarinho não muda de lugar, pois sabe que
para além das nuvens o seu Sol brilha sempre, e que o seu brilho
não se poderia eclipsar nem por um instante sequer.
É
verdade que às vezes o coração do passarinho se vê acometido
pela tempestade; parece-lhe não acreditar que existe outra
coisa, a não ser as nuvens que o envolvem. É então o momento da
alegria perfeita para a pobre e débil criaturinha. Que
felicidade para ela, permanecer ali, apesar de tudo, e fixar a
luz invisível que se esconde à sua fé!!!...
Jesus,
até agora compreendo o teu amor para com o passarinho pois ele
não se afasta de Ti. Mas eu sei, e Tu também o sabes, muitas
vezes a imperfeita criaturinha, ficando embora no seu lugar
(isto é, sob os raios do Sol), deixa‑se distrair um pouco da sua
única ocupação; apanha um grãozito à direita e à esquerda, corre
atrás de um vermezito... Depois, encontrando uma pocita de água,
molha as penas ainda mal formadas; quando vê uma flor que lhe
agrada o seu espírito entretém-se com essa flor... Enfim! não
podendo pairar como as Águias, o pobre passarinho entretém-se
ainda com as bagatelas da terra. Não obstante, depois de todas
as suas travessuras, em vez de se ir esconder num canto para
chorar a sua miséria e morrer de arrependimento, o passarinho
volta-se para o seu Bem‑amado Sol, expõe as asitas molhadas aos
seus raios benfazejos, geme como a andorinha e, no seu doce
cantar, confia, conta em pormenor as suas infidelidades,
pensando, no seu temerário abandono, conseguir assim maior
influência e atrair mais plenamente o amor d’Aquele que não veio
chamar os justos mas os pecadores... Se o Astro Adorado
continuar surdo ao chilrear plangente da sua criaturinha, se
permanecer velado..., pois bem: a criaturinha continua molhada,
aceita ficar transida de frio, e ainda se alegra com esse
sofrimento que, aliás, mereceu...
Ó Jesus! como o teu passarinho está contente por
ser débil e pequeno. Que seria dele se fosse grande?... Nunca
teria a audácia de aparecer na tua presença, de dormitar diante
de Ti... Sim, aí está mais uma fraqueza do passarinho: quando
quer fixar o Divino Sol, e as nuvens o impedem de ver um único
raio, contra sua vontade os seus olhitos fecham-se, a sua
cabecinha esconde-se debaixo da asita, e a pobre criaturinha
adormece, julgando fixar ainda o seu Astro Querido. Ao acordar,
não fica desolado, o seu coraçãozinho fica em paz, e recomeça o
seu ofício de amor. Invoca os Anjos e os Santos que se elevam
como Águias em direcção ao Fogo devorador, objecto do seu
desejo.
E as
Águias, compadecendo-se do seu irmãozinho, protegem-no,
defendem-no, e põem em fuga os abutres que o queriam devorar. Os
abutres, imagem do demónio, o passarinho não os teme, pois não
está destinado a ser presa deles, mas da Águia que contempla no
centro do Sol do Amor.
Por tanto tempo quanto quiseres, ó meu Bem-amado,
o teu passarinho ficará sem forças e sem asas; permanecerá
sempre com os olhos fixos em Ti. Quer ser fascinado pelo teu
divino olhar, quer tornar‑se a presa do teu Amor... Um dia,
assim o espero, Águia adorada, virás buscar o teu passarinho e,
subindo com ele para o Fogo do Amor, mergulhá‑lo‑ás eternamente
no ardente Abismo desse Amor, ao qual se ofereceu como vítima...
(História de uma Alma, Ms B 5rº-vº)
A Oração levanta o Mundo
Um sábio disse:
«Dai-me uma alavanca, um ponto de apoio, e
levantarei o mundo». O que Arquimedes não pôde obter, porque o
seu pedido não se dirigia a Deus, e por não ser feito senão sob
o ponto de vista material, os Santos obtiveram-no em toda a
plenitude: o Todo-poderoso deu-lhes, como ponto de apoio: Ele
mesmo e Ele só; e como alavanca: a oração, que abrasa com fogo
de amor. E foi assim que levantaram o mundo; é assim que os
santos que ainda militam na terra o levantam, e que, até ao fim
do mundo, os futuros santos o levantarão também.
(História de uma Alma, Ms C 36rº-vº)
Lançar Flores
Sim, meu Bem-amado!
Assim se consumirá a minha vida... Não tenho
outro meio de Te provar o meu amor, senão o de lançar flores,
isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum
olhar, nenhuma palavra; aproveitar todas as mais pequenas coisas
e fazê-las por amor... Quero sofrer por amor e gozar por amor.
Assim lançarei flores diante do teu trono. Não encontrarei
nenhuma sem a desfolhar para Ti...
(História de uma Alma, Ms B 4rº-vº)
O Fogo do Amor
Celina, Deus não me pede já nada...
No princípio pedia-me uma infinidade de coisas.
Pensei durante algum tempo, visto que Jesus não me pedia nada,
que agora era preciso caminhar suavemente na paz e no amor
fazendo somente o que Ele me pedisse... Mas tive uma luz. Santa
Teresa diz que é preciso alimentar o amor. A lenha não se
encontra ao nosso alcance quando estamos nas trevas, na aridez,
mas não estaremos ao menos obrigadas a lançar nele algumas
palhinhas? Jesus é suficientemente poderoso para conservar
sozinho o fogo, todavia fica contente por nos ver alimentá-lo, é
uma delicadeza que Lhe agrada e então lança Ele no fogo muita
lenha, nós não o vemos mas sentimos a força do calor do amor.
Tenho feito disto a experiência, quando não sinto nada, quando
sou incapaz de rezar, ou de praticar a virtude, é então o
momento de procurar pequenas ocasiões, nadas que dão gosto, mais
gosto a Jesus do que o império do mundo ou mesmo do que o
martírio sofrido generosamente, por exemplo, um sorriso, uma
palavra amável quando teria vontade de não dizer nada ou de
mostrar um ar aborrecido, etc., etc.
(Carta 143)
O Divino Prisioneiro
Como ter medo d’Aquele que Se deixa prender por um cabelo que
esvoaça no nosso pescoço!...
Saibamos pois conservar prisioneiro este Deus que
Se faz mendigo do nosso amor. Ao dizer-nos que um só cabelo pode
realizar este prodígio, mostra-nos que as mais pequenas acções
feitas por amor são as que Lhe cativam o coração...
Ah! se fosse preciso fazer grandes coisas, quanto
seríamos para lastimar?... Mas como somos felizes visto que
Jesus se deixa prender pelas mais pequeninas...
(Carta 191)
Amor, a chave da vocação
Considerando o corpo místico da Igreja, não me tinha reconhecido
em nenhum dos membros descritos por S. Paulo; ou melhor, queria
reconhecer-me em todos… A caridade deu‑me a chave da minha
vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um corpo composto de
diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não
lhe faltava: compreendi que a Igreja tinha um coração, e que
esse coração estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor
fazia agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os
apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires
recusar-se-iam a derramar o seu sangue... Compreendi que o Amor
encerra todas as Vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos
os tempos e todos os lugares... numa palavra, que é Eterno!...
(História de uma Alma, Ms B 3vº)
Acto de oferenda ao amor misericordioso
Ó meu Deus! Trindade Bem-aventurada! Desejo amar-Vos e fazer‑Vos
amar, trabalhar pela glorificação da Santa Igreja, salvando as
almas que estão na terra, e libertando as que estão no
Purgatório. Desejo cumprir plenamente a vossa vontade, e chegar
ao grau de glória que me preparastes no vosso Reino; numa
palavra, desejo ser santa. Mas conheço a minha impotência, e
peço-Vos, ó meu Deus, que sejais Vós mesmo a minha Santidade.
Já que Vós me amastes até me dardes o vosso
Filho único para ser o meu Salvador e o meu Esposo, os tesouros
infinitos dos seus méritos são meus: ofereço-Vo-los com alegria,
suplicando-Vos que não olheis para mim senão através da Face de
Jesus e no seu Coração ardente de Amor.
Ofereço-Vos também todos os méritos dos Santos
(que estão no Céu e na terra), os seus actos de Amor, e os dos
Santos Anjos. Finalmente, ofereço-Vos, ó Bem-aventurada
Trindade, o Amor e os méritos da Santíssima Virgem, minha
querida Mãe: é a ela que entrego o meu oferecimento, pedindo-lhe
que Vo-lo apresente.
O seu divino Filho, meu Esposo Bem-amado, nos
dias da sua vida mortal, disse-nos: «Tudo o que pedirdes ao meu
Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá!». Tenho, portanto, a
certeza de que atendereis os meus desejos.
Bem sei, ó meu Deus, quanto mais quereis dar,
mais fazeis desejar. Sinto no meu coração desejos imensos, e é
com confiança que Vos peço que venhais tomar posse da minha
alma. Ah! não posso receber a Sagrada Comunhão tantas vezes
quantas desejo, mas, Senhor, não sois Todo-poderoso?... Ficai em
mim, como no Sacrário. Nunca Vos afasteis da vossa hostiazinha...
Quereria consolar-Vos da ingratidão dos maus, e
suplico-Vos que me tireis a liberdade de Vos desagradar. Se, por
fraqueza, cair algumas vezes, que logo o vosso divino olhar
purifique a minha alma, consumindo todas as minhas imperfeições,
como o fogo, que transforma em si próprio todas as coisas...
Agradeço-Vos, ó meu Deus, por todas as graças que
me concedestes, especialmente por me terdes feito passar pelo
crisol do sofrimento. Será com alegria que Vos contemplarei no
último dia, levando o ceptro da Cruz. Já que Vos dignastes
dar-me em herança esta Cruz tão preciosa, espero parecer-me
convosco no Céu, e ver brilhar no meu corpo glorificado os
sagrados estigmas da vossa Paixão... Depois do exílio da terra,
espero ir gozar de Vós na Pátria, mas não quero acumular méritos
para o Céu, quero trabalhar só por vosso Amor, com o único fim
de Vos agradar, de consolar o vosso Coração Sagrado, e de salvar
almas que Vos amarão eternamente.
Na noite desta vida, aparecerei diante de Vós com
as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas
obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos.
Quero, portanto, revestir-me com a vossa própria Justiça, e
receber do vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo. Não quero
outro Trono, nem outra Coroa, senão Vós, ó meu Bem-amado!...
Aos vossos olhos, o tempo não é nada: um só dia é
como mil anos; podeis, portanto, num instante, preparar-me para
aparecer diante de Vós...
A fim de viver num acto de perfeito Amor,
ofereço-me como vítima de holocausto ao vosso amor
misericordioso, suplicando-Vos que me consumais sem cessar,
deixando transbordar para a minha alma as ondas de ternura
infinita que estão encerradas em Vós, e que assim eu me torne
Mártir do vosso Amor, ó meu Deus!...
Que este Martírio, depois de me ter preparado
para aparecer diante de Vós, me faça, enfim, morrer, e que a
minha alma se lance, sem demora, no eterno abraço do vosso Amor
misericordioso...
Quero, ó meu Bem-amado, a cada palpitação do meu
coração, renovar-Vos este oferecimento um número infinito de
vezes, até ao momento em que, desvanecidas as sombras, possa
reafirmar-Vos o meu Amor num face-a-face eterno!...
A caridade perfeita
Ah! compreendo agora que a caridade perfeita consiste em
suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as
suas fraquezas, em edificar-se com os mais pequenos actos de
virtude que se lhes vir praticar; mas compreendi, sobretudo, que
a caridade não deve ficar encerrada no fundo do coração:
«Ninguém, disse Jesus, acende uma candeia para a colocar debaixo
do alqueire, mas coloca-a sobre o candelabro para alumiar todos
os que estão em casa». Creio que essa luz representa a caridade,
que deve iluminar e alegrar, não só os que são mais queridos,
mas todos aqueles que estão em casa, sem exceptuar ninguém.
(História de uma Alma, Ms C 12rº)
A Rainha do Céu
Sabemos muito bem que a Santíssima Virgem é a Rainha do Céu e da
terra, mas ela é mais mãe do que rainha, e não se deve dizer,
por causa dos seus privilégios, que ela eclipsa a glória dos
santos todos, como o sol, ao surgir, faz desaparecer as
estrelas. Meu Deus! que estranho! Uma Mãe que faz desaparecer a
glória dos filhos! Eu, por mim, penso absolutamente o contrário;
acredito que ela engrandecerá muito o esplendor dos eleitos.
Está certo falar dos seus privilégios, mas não se
deve dizer apenas isso e se, num sermão, somos obrigados do
princípio ao fim, a exclamar Ah! Ah!, já chega! Quem sabe se
alguma alma não irá sentir até um certo afastamento em relação a
uma criatura de tal maneira superior, e não pensará: «Se é
assim, mais vale ir brilhar conforme se puder em qualquer outro
cantinho!»
O que a Santíssima Virgem tem a mais do que nós,
é que não podia pecar, estava isenta do pecado original; mas,
por outro lado, teve muito menos sorte do que nós, porque não
teve uma Santíssima Virgem para amar. É uma doce consolação a
mais para nós, e a menos para ela!
(Últimos Conselhos, 21.VIII.3)
A Justiça de DEUS
Sei que é preciso ser muito puro para aparecer diante de Deus de
toda a Santidade, mas também sei que o Senhor é infinitamente
justo e esta justiça que assusta tantas almas é a razão da minha
alegria e confiança. Ser justo, não é somente exercer a
severidade para castigar os culpados, é também reconhecer as
intenções rectas e recompensar a virtude. Espero tanto da
justiça de Deus como da sua misericórdia. É porque é justo que
«Ele é compassivo e cheio de doçura, lento para a ira e cheio de
misericórdia. Porque conhece a nossa fragilidade, lembra-Se de
que não somos senão barro. Como um pai sente ternura pelos
filhos, assim o Senhor tem compaixão de nós» [...]
Aqui tendes, meu Irmão, o que penso sobre a
justiça de Deus, o meu caminho é todo de confiança e de amor,
não compreendo as almas que têm medo de um Amigo tão terno. Às
vezes quando leio certos tratados espirituais em que a perfeição
é apresentada através de inúmeras dificuldades, rodeada por uma
quantidade de ilusões, a minha pobre inteligência cansa-se muito
depressa, fecho o sábio livro que me quebra a cabeça e me seca o
coração e pego na Sagrada Escritura. Então tudo me parece
luminoso, uma só palavra revela à minha alma horizontes
infinitos, a perfeição parece-me fácil, vejo que basta
reconhecer o próprio nada e abandonar-se como uma criança nos
braços de Deus.
Deixando às almas grandes, às grandes
inteligências, os belos livros que não posso compreender, e
ainda menos pôr em prática, regozijo-me por ser pequenina visto
que só as crianças e os que se assemelharem a elas serão
admitidas ao banquete celestial. Sinto-me muito feliz por haver
várias moradas no reino de Deus, porque se houvesse apenas
aquela cuja descrição e caminho me parecem incompreensíveis, não
poderia lá entrar.
(Carta 226, de 9.V.1897, ao P. Roulland)
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